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PELA CHINA DENTRO

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ANTONIO CAEIRO
2004
0
0
9789722026963

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发表于2024-12-26

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图书描述


著者简介

António Caeiro aceitou ser correspondente da Agência Lusa na China, esteve lá doze anos (1991-2002) e no regresso escreveu este livro. Todos os assuntos aqui tratados são bombeados pela mesma energia: o entusiasmo de assistir ao início da transformação vertiginosamente rápida de um país inerte durante milénios, ou seja, à China a preparar-se para ser uma potência económica mundial.

Um qualquer processo de mudança acolhe contradições. Nesta base, o discurso é percorrido sistematicamente por contrapontos de situações à partida impossíveis de ligar — fechamento-abertura; comunismo-capitalismo; antiguidade-modernidade; campo-cidade; manufactura-tecnologia — que performatizam, muito para além da letra, a proclamação de Deng Xiaoping: um país dois sistemas.

A par disso, insiste-se na escala dessa mudança — porque na China é tudo em grande: a população (quase 1300 milhões), o orgulho nacional, a história, as obras, a poluição...

Os níveis onde incide a focalização dessa mudança não podiam ser mais variados. Segue-se apenas uma lista ilustrativa:

— a língua: o significado unívoco da expressão "Libertação", que leva a que os presos políticos digam "Fui preso depois da Libertação" (!) (isto é, depois da tomada do poder por Mao), a par da utilização por um jovem chinês da frase feita "sonho americano" para dizer realização pessoal;

— o aparecimento de movimentos cívicos dedicados à protecção dos animais, num país onde se come de tudo o que tem quatro patas, ou às campanhas de antitabagismo, quando os chineses fumam até à asfixia;

— a continuação da doutrinação do povo através de slogans e da fabricação de trabalhadores-modelo, quando o livro de Mao é já um fetiche turístico;

— a admissão da China na Organização Mundial do Comércio com a população camponesa (metade da população) em pobreza extrema;

— a culinária: batatas fritas com mel ou ketchup com bossa de camelo;

— o futebol: "-Chegou a altura de tocar a rebate e erguer a Grande Muralha do futebol chinês!"(p.24)

— a música: o Exército Popular de Libertação formou uma orquestra de Jazz(!);

— o mercado bolsista, posto que, afinal, em 1864, o próprio Marx chegou a comprar acções numa companhia americana.

Apetece continuar a lista: os cabelos lixiviados, as sex shops, o humor, a pirataria, o Pai Natal chinês!

Simultaneamente motor e finalidade desta mudança, o crescimento económico não abala porém o monolitismo do Partido Comunista Chinês, firmado no pacto que tem com cada cidadão: "enriquece e cala-te". E por isso a obra é também atravessada por vozes de alerta para os perigos típicos de um pragmatismo sem princípios, derivado de um vazio ideológico e moral em função do qual as alianças internas e externas mais não são do que "parcerias estratégicas".

O título (correspondente a um sintagma preposicional designativo de orientação espacial) e subtítulo (que consubstancia o discurso na viagem e vice versa) convocam uma leitura sob o género relato de viagem, mas o trabalho de reportagem desponta a cada passo.

Na verdade, há subcapítulos (os capítulos estão segmentados por anos civis) dedicados à invocação, por ordem cronológica, de impressões, eventos, circunstâncias de uma viagem. Curiosamente, isso acontece quando a viagem tem por destino locais fora da China. O registo mais puro da relação de viagem está no momento dedicado ao percurso realizado no expresso Pequim-Hanói: são dados os pormenores de preparação e início da viagem; as personagens citadas são implicitamente identificadas como passageiros e empregados que metem conversa; as considerações históricas do autor-viajante são acolhidas no discurso apenas por extensão temática relativamente ao conteúdo das falas das personagens-companheiros de viagem. É um discurso pausado pelas paragens do comboio, para a introdução de descrições autónomas — das cidades, das estações, do Rio Amarelo, do Rio Yangtze e da vida das pessoas pontilhada nas suas margens, dos montes Guilin e, depois, da paisagem em fuga no ecrã do vidro da carruagem. Nenhum outro subcapítulo se lhe iguala neste registo (nem mesmo a viagem à Mongólia Exterior).

O que não quer dizer que não haja outras viagens representadas. Há muitas (ao Tibete, à província de Guangxi, a Bama, a Xangai, a Hong-Kong, a Macau...) — mas elas estão lá como pano de fundo, a dar o contexto para alinhar mais conversas derivadas de outros encontros ocasionais, mais comentários históricos, mais considerações etnográficas. Podemos discutir se não é esta a feição mesma do relato de viagem. Porém, há uma especificidade, que se obtém apenas por uma visão de conjunto da obra: neste livro, os momentos em que o espaço funciona como circunstancial agrupam-se plenamente com os movimentos discursivos próprios da reportagem.

Aliás a reportagem está presente como tema e como exercício. Como tema, porque não raro nos são dados os bastidores técnicos da profissão de jornalista, assim como uma alargada circunstanciação da investigação e das entrevistas realizadas para a elaboração do texto jornalístico. Por outro lado, é praticado o exercício da reportagem, dado que há segmentos que reactivam, com algumas transformações, é certo, o modo de organização do discurso noticioso, compassado em três tempos sequenciais de textualização: 1. introdução insulada de discurso directo - 2.apresentação do locutor que o produziu - 3.generalização com apoio em várias fontes (jornais, revistas, livros). Não é difícil detectar pois, nesses mesmos segmentos, uma enunciação jornalística em que a instância elocutiva é apenas lugar de mediação.

É claro que cai fora da enunciação jornalística o constante recurso a tempos do passado (inclusivamente nos verbos dicendi) e a identificação pessoal do locutor-jornalista, que entretanto fora dada — porque este é um discurso referencial e porque se usou já a primeira pessoa. Quanto ao conteúdo, também não cabem na reportagem os pormenores risíveis e os episódios anedóticos (as praias com horário de abertura e de encerramento, os seios importados dos EUA...) ou a descrição fortemente impressiva das surreais reuniões para aprovação do Orçamento Geral do Estado, por exemplo. Quanto às opções lexicais, são, nesta linha, igualmente excedentárias as metáforas inseridas no discurso por prolongamento de um dado campo semântico em vigor: "Foi pela mesma linha [de comboio] que o Vietname recebeu o arroz e as armas com que a China apoiou a 'luta do povo irmão contra o imperialismo americano', nos anos 60, mas a História, entretanto, fez agulha noutro sentido" (p.126); "As faixas de rodagem reservadas às bicicletas iam ficando cada vez mais estreitas e a indústria do sector também estava a perder pedalada." (p.184); "— Os chineses não vão deixar de beber chá, mas passarão também a tomar café, como aconteceu no Japão. É uma questão de dez ou quinze anos — dizia um técnico de marketing que comercializava o café colombiano na China. / O director da adega italiana que faz o espumante Asti, Oswaldo Brondolo, tentava manter-se sóbrio, mas os números entonteciam qualquer um. / — Se cada família chinesa comprasse uma garrafa por ano — imaginava aquele agricultor de Turim — seriam cerca de 350 milhões de garrafas. Dezassete vezes mais do que todo o Asti bebido anualmente em Itália!" (p.209)

Balanceando os dois géneros. Encontramos relato de viagem pela presença de sequências estrutural e enunciativamente conformáveis nesse género, como acima já se analisou, mas também, ao nível das representações, pelo exotismo e fascínio pelas maravilhas daquele mundo — lugar de aprendizagem e desafio hermenêutico. Encontramos reportagem no peso referencialista do discurso, no posicionamento das personagens como fontes de informação e postos de observação, na projecção de um saber derivado da actualidade noticiosa.

Uma observação ainda sobre o uso da primeira pessoa. António Caeiro em entrevista a Ana Sousa Dias ("Por Outro Lado", Canal 2, 15-11-04), afirmou a necessidade de escrever a palavra "eu" para estar ao nível do "tu" do leitor — e assim promover uma relação interlocutiva que é alheia a um texto emanado de uma agência noticiosa.

Concomitantemente, a emergência da figura do autor, assim referenciada, permite sustentar o desenvolvimento de um ponto de vista e a prossecução de uma mira argumentativa que visa a apologia da acção chinesa — do povo e dos seus governantes. Veja-se, por exemplo, como o autor contrapõe os testemunhos desfavoráveis à China com episódios da sua experiência pessoal que ditam uma orientação contrária; como coloca em posição final dos subcapítulos as falas que concorrem para uma visão compreensiva da China; como dá eco à voz do leitor nas interrogações que arrastam consigo um ponto de vista contra-orientado — "Vale tudo?" (p.197); "Democracia?" (p.278) — para de seguida ver reforçada a posição — que o autor se mostra a compartilhar — de que existe bom senso na China e de que a democratização é uma operação incauta num futuro próximo. Esta apologia da China é retumbante no último parágrafo do livro, quando, ao citar a visão negativa que a imprensa chinesa faz do trabalho dos correspondentes estrangeiros, acusando-os de facciosismo depreciativo, o autor se distancia desses correspondentes e coloca tudo o que escreveu até aí em contra-corrente, ou seja, em facciosismo apreciativo.

Por estes três prismas - enunciativo, semântico e argumentativo - é possível perceber porque é que uma obra feita de fragmentos não aparece fragmentada, mas como uma totalidade concertada, em que nenhuma parte é dispensável (o prefácio do Embaixador é paratexto.)


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04年或05年我在葡萄牙读完了这本书,觉得很好,回国还多买了本送给赵老师。08年5月我从国企跳槽到Lusa,没多久记者告诉我他要回国,接替他的人就是作者Antonio Caeiro,也就是我的新老板。我跟他工作了五年多,直到13年底我辞职要到斯里兰卡。有次他说参加活动,????????记者被授予????????总统勋章。我问他葡萄牙总统什么时候给你勋章?他说????????一般不给记者发总统勋章。但话音没落多久,他就得了????????总统勋章,挺高兴跟我说比????????大使的勋章级别还高。他是个乐观的敬业的记者,连我辞职走都被他写到稿子里:一般中国人农场包围城市,我是要从城市到乡村。

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